IFFar
De uma estudante que "não gostava de correr" a uma das 20 melhores atletas do Brasil em sua categoria, Cintia Vieira, aluna do curso Técnico Integrado ao Ensino Médio de Agropecuária do IFFar – Campus Júlio de Castilhos, descobriu no atletismo não só uma paixão, mas um propósito de vida.

Cintia representando o IFFar na segunda fase dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (JERGS), de 2024
A relação de Cintia Vieira, estudante do curso Técnico Integrado ao Ensino Médio de Agropecuária do IFFar – Campus Júlio de Castilhos, com o atletismo começou de forma tímida, quase despretensiosa. Em 2022, ainda no Ensino Fundamental e com 13 anos, ela recebeu o convite do professor da escola para participar da etapa municipal dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (JERGS), nas provas de 800 e de 2000 metros. Na época, nem pensava em se tornar uma corredora, seu “negócio" mesmo era o futsal. “Ironicamente, entre todos os esportes, corrida era o que eu menos gostava”, admite.
Mesmo assim ela topou o desafio e, faltando apenas dois dias para a competição, pediu ao pai, seu Valério Vieira, que havia sido corredor quando mais jovem, para treiná-la. O conselho paterno foi simples: "saia devagar e vá no seu tempo". A estratégia deu certo. Cíntia venceu as duas provas em que participou e voltou para casa surpresa com o próprio desempenho. “Cheguei em casa muito feliz e percebendo que eu tinha um certo talento pra isso”, lembra.
Animada com o resultado, ela continuou treinando e, menos de dois meses depois, repetiu o feito na fase seguinte dos Jogos, passando, em seguida, para a etapa regional. Nessa fase, alcançou o segundo e o terceiro lugar nas provas em que disputou, porém acabou não se classificando para a estadual. Ainda sim, o bom desempenho fez com que a estudante decidisse, a partir dali, se dedicar de vez ao atletismo.
Mas, o que era, até então, uma prática escolar começou a tomar novos rumos em 2023, quando, junto com o pai, Cíntia participou de uma corrida de rua na cidade de Cruz Alta. Lá, foi observada pelo treinador Edi Barbosa, referência no atletismo gaúcho e nacional. Técnico de atletas olímpicos como Lutimar Paes, Edi se impressionou com a desenvoltura da jovem.
“Durante a corrida, notei que ela tinha uma passada muito leve, fluída, e a forma como ela performava durante as subidas chamava atenção. Ao final, falei com o pai dela, dei umas dicas e ele logo me procurou. Foi aí que começamos os treinos”, relembra Edi.

Cintia (dir.) ao lado do treinador Edi (centro) e do pai Valério (esq.), em 2023, durante corrida de rua em que se conheceram na cidade de Cruz Alta - RS
Com o acompanhamento de Edi, Cíntia deu início a uma rotina de treinamento intensa, digna de uma atleta profissional: seis dias por semana, com três sessões de academia e, por vezes, dois treinos ao dia. Para o preparo emocional, ela passou a contar também com o auxílio de uma psicóloga esportiva, além da orientação diária do treinador.
Logo, com poucos meses de preparação, ela começou a conquistar resultados notáveis, tanto em circuitos estaduais quanto nacionais. Até que em 2023, deu um passo gigante ao se tornar atleta da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), um marco que lhe abriu as portas para competir em estaduais e brasileiros, ampliando sua visibilidade e oportunidades. "Ser atleta CBAt é mais que uma carteirinha e um ranking, são experiências e aprendizados que só a federação nos proporciona", afirma.
Hoje, aos 16 anos, Cintia compete em provas de 800, 1500, 3000 e 5000 metros, além de revezamentos – e acumula pódios. Em 2024, por exemplo, foi três vezes medalhista de bronze em campeonatos estaduais nas provas de 1500 e de 3000 metros. No mesmo ano, também recebeu da Federação de Atletismo do Estado do Rio Grande do Sul (FAERGS) o título de Atleta Destaque Estadual Sub-18, além de se tornar campeã estadual de corrida de rua na categoria adulta pelo Circuito Sesc de Corridas, sendo a mais jovem a alcançar tal feito.
Mas, a estrada para o sucesso nem sempre é uma linha reta. O maior desafio de Cintia veio ainda em 2024, nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBS). Ela conta que ficou em terceiro e segundo lugar nas provas em que participou, porém apenas os primeiros se classificavam. "Foi uma das maiores frustrações da minha vida no atletismo, eu me senti insuficiente e com aquela sensação de 'quase'", desabafa. Chegou a considerar parar de treinar, incentivada por algumas pessoas. "Se eu parar nunca vou conseguir, e se eu desistir vou mostrar que aquelas pessoas estavam certas", pensou Cintia, o que a fez voltar mais forte e determinada.
E a persistência valeu a pena. Neste ano, a nível nacional, a estudante classificou-se entre as 20 melhores atletas do país no Campeonato Brasileiro Sub-18, realizado em Cuiabá, no estado do Mato Grosso, com o 18º lugar nos 3000 metros e o 19º nos 1500 metros. Essa experiência foi, segundo ela, a realização de um sonho. “Ainda bem que a Cíntia de 2024 não desistiu. Como eu queria ter avisado a ela que tudo daria certo. Saí de lá uma nova atleta, me sentindo realmente parte da elite. Foi muito bom ver o nosso trabalho sendo reconhecido”, comenta com orgulho.

Cíntia durante sua participação no Campeonato Brasileiro Sub-18 de 2025, realizado em Cuiabá, Mato Grosso
Recentemente, ela garantiu o primeiro lugar nos 800m na 13ª edição dos Jogos Estudantis do IFFar (JEIF) 2025, além de conquistar o terceiro lugar nos 3000 metros na última edição dos Jogos dos Institutos Federais da Região Sul (JIFSul), realizados em Santa Maria entre os dias 21 e 24 de julho deste ano.
Para Cíntia, essas competições têm um significado especial. “Eu já competi muitas vezes, mas o JEIF é algo único. A integração e o apoio da torcida tornam a experiência inesquecível. E pra mim, que já sou bicampeã dos jogos, é ainda melhor”, relata. Sobre os Jogos da Região Sul, completa: “Foi minha primeira participação no JIFSul e tenho certeza de que ainda virão outras. Esses eventos são muito importantes para revelar talentos que só precisavam de uma oportunidade.”
Uma jornada de apoio, disciplina e confiança
A caminhada de Cíntia até aqui não seria possível sem o suporte incondicional da família, especialmente do pai, seu Valério Vieira. Ele foi o primeiro a perceber o talento e a determinação da filha, e quando ela começou a correr, voltou até a treinar para acompanhá-la. “Eu voltei a praticar para ela não ir sozinha. Foi muito bom para mim também. Não tem explicação a alegria que eu sinto correndo com ela”, comenta.
Presente em todas as etapas, Valério não apenas incentiva: participa das provas, vibra a cada pódio e colabora na organização da rotina esportiva da filha. Ver o crescimento de Cíntia no esporte é, para ele, motivo de orgulho. Sempre que pode, ajuda no que está ao seu alcance e considera mais importante do que as medalhas os valores que o esporte tem proporcionado — como disciplina, foco e superação.
Mas, além disso, Valério também voltou a competir e a ter suas próprias conquistas. Ao lado da filha foi o primeiro colocado do ranking estadual adulto do Circuito Sesc de Corridas em 2023. “Ela venceu a categoria dela e eu venci a minha. Fizemos até uma passeata quando voltamos para casa”, relembra, com bom humor.
O técnico Edi Barbosa reforça o papel da família nesse processo. Ele destaca que é raro encontrar pais tão presentes e comprometidos com a jornada esportiva dos filhos quanto os de Cíntia, o que, segundo ele, faz toda a diferença para que a atleta possa seguir evoluindo.
Outro fator importante na trajetória da jovem corredora tem sido o apoio de patrocinadores locais. A ajuda com transporte, alimentação, taxas de inscrição e materiais esportivos permite que Cíntia siga competindo em alto nível e ampliando seus horizontes. Ela reconhece que, sem esse suporte, muitos dos resultados que conquistou não seriam possíveis.
Além da base familiar e dos parceiros que acreditam no seu talento, Cíntia também conta com o suporte institucional do IFFar, que se tornou um ambiente de crescimento esportivo e acadêmico. A participação em eventos como o JEIF e o JIFSul, o apoio dos professores e a flexibilidade para conciliar os estudos com as competições contribuíram para sua formação. “Estudar no IFFar é um desafio, ainda mais sendo atleta. Mas os professores entendem minha rotina, e sempre dou um jeito de manter as notas em dia. Já virei especialista em organizar horários e correr contra o tempo, quase que literalmente”, brinca.

Cintia com as medalhas conquistadas na 13ª edição do Jogos do IFFar (JEIF 2025)
Mesmo com a rotina intensa, ela se mantém entre as melhores da turma. “Preciso ter notas boas para continuar competindo, mas também porque quero seguir os estudos em uma universidade pública. O IFFar tem me preparado muito bem para isso”, afirma.
No futuro, Cíntia pretende cursar Educação Física e atuar como treinadora. Seu desejo é usar tudo que está vivendo como atleta para ajudar outras pessoas a crescerem no esporte. “Quem sabe eu consiga formar novos campeões?”, projeta. Também sonha em competir fora do país e representar o Brasil em provas internacionais. Para ela, com dedicação e esforço, tudo é possível.
O técnico Edi Barbosa compartilha da mesma visão. Segundo ele, Cíntia tem todas as condições de trilhar um caminho de alto rendimento e, futuramente, contribuir na formação de novos talentos. “Ela é uma atleta focada, determinada, disciplinada e com uma capacidade mental muito boa. Mesmo com pouco tempo de treino, devido às competições constantes, a evolução dela tem sido impressionante. Está muito acima da média para a idade”, destaca.
Referência no IFFar e na cidade de Júlio de Castilhos, Cíntia, apesar de muito jovem, já inspira crianças e adolescentes que sonham em seguir seus passos. “Algumas meninas vêm até mim e dizem ‘quero correr como você’. Isso me emociona muito, porque vejo que estou abrindo caminhos para outras pessoas. Ser exemplo é uma grande responsabilidade, mas também uma honra”, reflete.
E, para quem está começando no esporte ou sonha com a vida de atleta, ela deixa um recado: “Se é o seu sonho, faça de tudo para realizá-lo. Treine, insista, aprenda com as derrotas e aproveite cada momento. Porque não é só correr. É crescer, aprender, viver. E quando a medalha chegar, você vai ter certeza de que tudo valeu a pena”, finaliza.
Secom
Redação: Daniele Vieira - estagiária de Jornalismo
Revisão: Rômulo Tondo - Jornalista
Colaborador: Elisandro Coelho - Relações Públicas
Publicado em Notícias Júlio de Castilhos
- 31/07/25
- 11h57
De uma estudante que "não gostava de correr" a uma das 20 melhores atletas do Brasil em sua categoria, Cintia Vieira, aluna do curso Técnico Integrado ao Ensino Médio de Agropecuária do IFFar – Campus Júlio de Castilhos, descobriu no atletismo não só uma paixão, mas um propósito de vida.
Publicado em Notícias IF Farroupilha
- 31/07/25
- 10h59
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