Professor do IFFar – Campus Santo Augusto cria material tátil para ensinar matrizes a alunos com deficiência visual
O professor de matemática do IFFar - Campus Santo Augusto, Tiago Stefanello e Silva, produziu um material didático alternativo para que alunos com deficiência visual total pudessem aprender o conceito e as operações elementares de matrizes, conteúdos obrigatórios da grade curricular.
O desenvolvimento do material foi objeto de estudo da dissertação de Mestrado do professor (concluída em agosto de 2015), realizada junto ao Núcleo de Apoio ao Portador de Necessidades Especiais (NAPNE) e sob a orientação do professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, João Roberto Lazzarin. Parte do trabalho desenvolvido foi publicado na revista Ciência e Natura da UFSM, como forma de artigo sob o título: “Matemática inclusiva: ensinando matrizes a deficientes visuais”.
A partir das leis (lei 12.711/2012 e lei 13.409/2016) que dispõem sobre a reserva de vagas para pessoas com deficiência no Ensino Médio, Técnico e Superior e de políticas de inclusão, o número de pessoas com deficiência, matriculadas no ensino regular tem aumentado. Assim, as instituições de ensino precisam se adequar tanto no que diz respeito à capacitação de professores para lidar com essas pessoas quanto ao desenvolvimento de instrumentos e ambientes que contribuam para o acolhimento e aprendizagem desses estudantes. No Instituto Federal Farroupilha, 5% das vagas são reservadas para os candidatos com deficiência.
Segundo Tiago, já há material tecnológico existente para esse fim, mas é caro e usa a audição como meio de ensino, o que pode excluir pessoas com cegueira e surdez. Por isso meu objetivo era criar um material com baixo custo e que fosse baseado no tato, pois assim não excluiria pessoas surdas além de poder ser facilmente confeccionado nas escolas de ensino médio.
Em conversa com a professora de Educação Especial do Campus Santo Augusto, Tiago conta que ela lhe explicou que ímãs de geladeira eram comumente usados em atividades com alunos cegos. “Desse momento até desenvolver o modelo utilizado foi um 'pulo', visto que o modelo matricial é um modelo também geométrico em que o aluno podia tatear e assimilar com certa facilidade os conceitos que lhe eram apresentados”, pontua.
O estudante com deficiência visual do curso de Licenciatura em Computação Danilo Garcia Weich, do IFFar - Campus Santo Augusto e também auxiliar em administração da instituição, foi voluntário para testar o material desenvolvido.
Tiago destaca que a ótima capacidade de memorização de Danilo facilitou muito o trabalho. Além disso, conforme foram desenvolvendo o trabalho, o aluno percebeu que o sinal em Braille da igualdade não era o suficiente para que ele conseguisse saber de que lado da igualdade estavam os elementos, então o próprio estudante sugeriu usar um retângulo da mesma altura das colunas das matrizes, assim conseguia sentir claramente de que lado estavam os elementos.
O professor também aponta que o aluno teve algumas dificuldades em relação à matemática básica, como, por exemplo, a regra de sinais ao multiplicar e somar números negativos. “Com um pouco de treino e estabelecendo algumas convenções, pouco a pouco, diminuímos estes obstáculos, que já não eram obstáculos por questões visuais, mas sim, desses que qualquer aluno enfrenta quando se afasta um pouco destes tipos de cálculo”, afirma.
Para Danilo, a experiência ajudou a cursar a disciplina sem dificuldades. Como também percebe a importância do desenvolvimento desses tipos de materiais e acrescenta: “o material desenvolvido pode ajudar às pessoas cegas que necessitem estudar e aprender os conteúdos relacionados às matrizes e álgebra linear. O material adaptado ficou muito bom, super acessível, e fácil de ser utilizado, facilitando muito o estudo e a aprendizagem de qualquer aluno cego”, conclui.
Encontrar materiais que facilitem a aprendizagem das pessoas com deficiência visual é uma necessidade crescente na realidade das escolas e universidades do Brasil, visto que essas pessoas estão cada vez mais ocupando o seu lugar de direito no ensino regular. Porém, ainda não existem instituições completamente adaptadas, além de que, principalmente nas escolas, os recursos financeiros tendem a ser escassos. Assim, buscar materiais baratos e de fácil confecção pode ser um caminho para minimizar os obstáculos para a aprendizagem das pessoas com deficiência.
A partir do artigo, publicado esse ano na revista Ciência e Natura da UFSM, o trabalho de Tiago foi escolhido como um dos temas de pauta da última edição da revista Arco - Jornalismo Científico e Cultural, também da UFSM. A reportagem completa pode ser conferida no site da revista http://coral.ufsm.br/arco/Digital/Noticia.php?Id_Noticia=417
Fonte: Com informações da Revista ARCO editado pela Ascom do Campus Santo Augusto
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