Alunas do curso Técnico em Móveis têm textos publicados em Jornal
No sábado, dia 12 de outubro, o Jornal Gazeta Regional, de Santa Rosa, publicou, na seção “Artigos”, dois textos das alunas do curso Técnico Integrado em Móveis. O texto de Adriana Gotens Antunes, do 1º ano, apresenta reflexões sobre igualdade de gênero e feminicídio. Já Laura Eduarda Nonemacher Tilvitz, do 2º ano, fez um recorte lúdico sobre o empoderamento feminino. Os textos são resultados dos aprendizados de sala de aula, além da criatividade e interpretação pessoal de cada aluna.
As alunas são bolsistas do Projeto de Pesquisa “Formas Discursivas do Aparecimento\Constituição do Feminino”, desenvolvido pela Doutora Vejane Gaelzer, professora de Língua Portuguesa do IFFar - Campus Santa Rosa. Para a professora, a publicação auxiliará as alunas em suas trajetórias acadêmicas.
Reproduzimos os textos abaixo:
Por que apenas o outubro é rosa?
O cenário social atual impossibilita o famigerado trecho do artigo 5º da Constituição Federal Brasileira de ser uma situação insuspeita: “Todos são iguais perante a lei”. De modo teórico, o reconhecido pela Constituição teria de ser reflexo na veracidade coletiva, entretanto, o pensamento de que estamos vivenciando um patamar de igualdade de gênero é agudamente utópico. O debate referente ao contexto atual da mulher tem se mostrado tão necessário quanto, de fato, atentar ao que cada uma, pela sua vivência, tem a relatar. A despeito de cada realidade se mostrar distinta, o processo de reconhecer-se como mulher, socialmente, apresenta intensas semelhanças. Tais impasses cotidianos defrontados por elas, durante esse processo, podem ser exemplificados pela desigualdade salarial, a constante pressão/exigência sobre o corpo, a aparência, o comportamento e a convivência direta ou indireta com abusos e violências – refletidos em números - motivados por um machismo estrutural e velado.
O “Outubro Rosa” é mês de conscientização da saúde feminina, objetivando o controle do câncer de mama e uma facilitação no acesso aos serviços de diagnóstico e tratamento. Esse período é reconhecido como sendo de extrema relevância e, certamente, contribuinte para a ação de diálogos e debates, os quais carregam consigo conhecimento e alerta sobre o assunto. O questionamento que tem de se fazer presente, no entanto, é: até quando, apenas o outubro será rosa? Por que, no restante do ano, o debate alusivo à vida da mulher segue, por vezes, sendo ignorado e, ademais, evitado? Para compreender a acepção do termo “mulher”, em tempos atuais, é necessário que se analise sua história plenamente, já que ele carrega, em seu poder, termos como “luta”, “força”, “superação” e “evolução”. Luta, essa, que garante a conquista do espaço que as mulheres possuem presentemente, concretizando aquilo que, outrora, exigiu a força e, até mesmo, a vida de muitas.
Os números assustam, nos fazem ponderar. O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). De acordo com levantamento realizado pelo G1 e pela GloboNews, os casos de feminicídio aumentaram 76% no 1º trimestre de 2019, em São Paulo, se comparados ao mesmo período do ano anterior. Índices divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que a cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil. Por dia, 180 são vítimas de estupro. Trata-se de dados referentes ao Brasil e, por conseguinte, circundam a realidade de cada brasileiro. Números os quais são, de fato, mulheres. Ao passo que eles aumentam, a indiferença parece aumentar conjuntamente: evidência de uma sociedade a qual insiste em perdurar a estruturação do machismo que oprime, abusa, cala e mata.
A evolução será, por certo, efetiva, à proporção que a reflexão acerca da vivência feminina se fizer presente integralmente e no decurso de todo o ano. O “Outubro Rosa” manifesta-se positivamente, todavia, enquanto esse for o único período provedor de tais debates e compreensões, sobretudo em nosso país, os números seguirão atemorizando. A luta de tantas mulheres, no decorrer da história, foi capaz de revolucionar o contexto social, político e cultural, legitimando que são incalculáveis as barreiras confrontadas por elas. Logo, notamos grande avanço em todas as esferas sociais, os quais, mesmo insuficientes, apresentam vigor para impulsionar inúmeras discussões e conquistas no âmbito nacional. Esses números não podem mais seguir despercebidos. A conscientização deve ser cotidiana. O ano todo deve ser rosa. (Adriana Gotens Antunes, 15 anos)
A princesa que virou... ela mesma.
Cinderela ainda era muito jovem quando sua mãe faleceu e seu pai casou-se novamente. Um tempo depois, seu pai também veio a óbito e a moça ficou sob o cuidado da madrasta e suas filhas, que juntas transformaram sua vida num verdadeiro inferno. Obrigavam-na a realizar as tarefas domésticas sozinha e tiravam sarro de qualquer coisa que fizesse. Seus únicos amigos eram os animaizinhos da floresta, que se abrigavam no sótão da casa, onde ela também buscava refúgio.
Um belo dia, o Rei anuncia um baile no Castelo, para que o príncipe pudesse escolher sua esposa dentre todas as moças do reino. A madrasta de Cinderela a proibiu de ir, dizendo que não possuía roupas adequadas para tamanha ocasião. Diante disso, juntamente com seus amigos da floresta, a moça costurou um lindo vestido, que foi rasgado pela senhora e suas filhas, já que não queriam de forma alguma que a jovem fosse ao evento.
Decepcionada com a atitude de sua família, Cinderela dirigiu-se ao seu quarto e pôs-se a observar o castelo. Com isso, sua fada-madrinha surge para ajudá-la, usa de sua magia para criar um gracioso vestido e transforma uma abóbora numa linda carruagem para que a menina pudesse chegar a tempo. Ao adentrar o baile, percebe a surpresa de todos com sua presença, estava bela, mas recebeu um aviso de sua madrinha: se não estivesse em casa até a meia-noite, o encanto acabaria em pleno baile.
Logo que o príncipe avista a garota, a tira para dançar, causando muita inveja no salão. A madrasta e suas filhas nem a reconheceram, estavam tão acostumadas a menosprezá-la que nunca haviam visto qualidades na moça. Cinderela e o príncipe conversaram durante horas, mas para ela, durante todo o tempo, algo parecia errado. Por mais produzida que estivesse, não se sentia ela mesma. Sabia que nunca gostara de vestidos, que o salto lhe incomodava e que não passara a vida pensando em se casar com um príncipe. Entendia também que a competição entre as mulheres deveria acabar.
Então, quando o relógio marcou 00h01min, enquanto a maquiagem deixava seu rosto, seu cabelo voltava ao mesmo penteado de sempre (um coque alto com alguns fios soltos) e o vestido se transformava num conjunto de calça e camisa, a moça teve um pronunciamento de liberdade:
- Não sou o que esperam de mim, nunca fui e nunca serei. Não me prenderei a maquiagens, saltos e nem a afinadores de cintura. Essa sou eu em minha mais pura versão, não deveria e nem vou envergonhar-me de minha imagem. Quando estou em casa, convivo comigo nesta versão o tempo todo, ao sair, não mais me arrumarei para que a sociedade me aprecie, arrumar-me-ei somente para mim, do jeito que me sinto bem. Não estou à procura de um príncipe, agora procuro por mim mesma. (Laura Eduarda Nonemacher Tilvitz, 16 anos)
Redes Sociais