Reportagem destaca parceria entre IFFar e Embrapa para o cultivo de cana-de-açúcar
O texto abaixo é uma reprodução do site NovaCana. A autoria é de Renata Bossle.
Pesquisa quer promover avanços no sistema de cultivo de cana no Rio Grande do Sul
Acordo entre a Embrapa Clima Temperado e o IFFar terá foco em variedades, mudas, irrigação, controle biológico de pragas e manejo
Um acordo entre a Embrapa Clima Temperado e o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Farroupilha (IFFar) promete gerar avanços para a produção da cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul. De acordo com o extrato do contrato de cooperação técnica publicado no Diário Oficial da União (DOU), o campus de Jaguari da instituição de ensino deve receber uma estrutura para observação de variedades de cana e técnicas de cultivo.
O professor Vinícius Soares Sturza, da direção de pesquisa, extensão e produção do IFFar em Jaguari, explica que o instituto ainda está finalizando os trâmites junto à equipe das relações institucionais. Mas adianta que a unidade demonstrativa tem o objetivo de visualizar tecnologias indicadas pela Embrapa para sistemas de produção de cana-de-açúcar no estado.
“Ela servirá de apoio didático para os estudantes do curso técnico em agricultura, para agricultores e para profissionais da região de inserção do IFFar - Campus Jaguari envolvidos com essa atividade, por meio de atividades de extensão”, acrescenta.
Conforme o documento publicado no DOU, a parceria deve seguir até 30 de agosto de 2024, podendo ser prorrogada ou alterada. “Durante a vigência da cooperação, pretende-se demonstrar variedades de diferentes ciclos, ocorrência de pragas, capacitação para produção de mudas por minitoletes, uso de bactérias diazotróficas, irrigação e aspectos de manejo para a região”, enumera Sturza.
Mudas, controle biológico e irrigação
O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Sérgio dos Anjos e Silva, comenta o espaço dado para as mudas de cana no projeto. “No Rio Grande do Sul, as propriedades são menores. Assim que termina o período de geada, levamos uma muda já pronta e ela vai para o solo bem enraizada, o que adianta a primeira colheita, que normalmente se dá em 10 ou 12 meses”, relata.
Ele também destaca as pesquisas em controle biológico de pragas. Segundo o pesquisador, a Embrapa fez um trabalho extenso sobre o tema, acompanhando teses de doutorado e dissertações de mestrado em todo o estado. Nesse processo, a broca foi identificada como a principal praga.
“A cotésia seria um dos controles biológicos mais eficientes no Brasil”, afirma, referindo-se à vespa que se alimenta dos ovos da broca. E completa: “Já o uso das bactérias é um trabalho que nós temos em parceria com a Embrapa Agrobiologia. Tivemos até o lançamento de um produto em colaboração com a Basf com bactérias fixadoras nitrogênio, que aumentam muito a tolerância ao déficit hídrico”, relata.
Silva aproveita para reforçar a questão das pesquisas em irrigação. De acordo com ele, o projeto com o IFFar terá enfoque no gotejamento subterrâneo: como o sistema fica abaixo do solo, ele fica mais protegido e permite maior eficiência no uso da água.
A cana no Rio Grande do Sul
O uso eficiente da água remonta à própria motivação das pesquisas sobre cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul. Segundo Silva, a Embrapa trabalha com a cultura no estado há 18 anos, em uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa).
“Foi uma demanda dos agricultores da região noroeste do estado, de Santa Rosa, São Luiz Gonzaga e São Borja”, relata e segue: “Nos últimos anos, eles vinham perdendo muito milho e soja por deficiência hídrica, com secas frequentes. Eles viam a cana com uma cultura perene, mais tolerante a essa questão do estresse por falta de água”.
Atualmente, o problema das secas persiste no estado, com mais de 370 municípios tendo declarado estado de emergência. Em janeiro, a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro-RS) já afirmava que as perdas na primeira safra de milho 2022/23 eram irreversíveis, chegando a até 80% em algumas regiões.
O pesquisador da Embrapa conta que, ao longo destas duas décadas, foram realizados testes com cana-de-açúcar em 22 locais, espalhados pelo estado. Além disso, ele conta que, já em um primeiro momento, 220 cultivares foram analisados.
“Uma coisa muito interessante é que o material mais tolerante a frio que a gente tem é a RB92579, que foi selecionada lá em Alagoas. Ela teve uma adaptação muito boa aqui no Sul”, relata Silva, que completa: “Isso mostra a importância de testarmos materiais; talvez, lá em Alagoas, nunca se pensasse que uma variedade teria uma alta tolerância a temperaturas de até 2°C abaixo de zero”.
Espalhando conhecimento
De acordo com o pesquisador, a parceria da Embrapa com o IFFar surgiu visando a capacitação da comunidade: “A gente dá cursos sobre cana, sobre fazer cachaça, essas coisas. Já faz uns cinco anos”.
Assim, após a identificação das tecnologias que a Embrapa Clima Temperado teria como objetos de estudo, começou a definição do mais recente contrato de parceria. “Essas novas tecnologias para a cana inovavam o sistema de produção para o Rio Grande do Sul”, garante Silva.
Além disso, por conta da colaboração entre a Embrapa e a Ridesa, todas as variedades que serão testadas no IFFar foram desenvolvidas pela rede. Segundo Silva, inicialmente, serão oito cultivares, com desenvolvimento precoce, médio e médio-tardio.
Mas ele reforça que a unidade da Embrapa também possui outras iniciativas e parcerias na área de cana, com possibilidade de ampliação. Para este ano, inclusive, há a perspectiva de lançamento de um projeto mais abrangente, que teria o órgão de assistência técnica Emater-RS, ligado ao governo estadual, como principal colaborador.
O pesquisador ainda observa que, no momento, os produtores locais trabalham com itens de alto valor agregado, como o açúcar mascavo, o melado batido e a cachaça. “Hoje, a cachaça do Rio Grande do Sul ocupa um lugar de destaque no Brasil e tem vários prêmios internacionais”, comemora.
Texto por Renata Bossle/site NovaCana
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