Projeto de pesquisa do IFFar busca melhorar diagnóstico de doenças em cães e gatos
No Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, conversamos com uma professora e uma estudante do IFFar sobre um projeto de pesquisa que busca melhorar o diagnóstico e o tratamento de tumores em cães e gatos.
Foto: a professora Samay Costa realizou treinamento na UFRRJ para aplicação da técnica pesquisada
O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência é comemorado anualmente no dia 11 de fevereiro. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o objetivo de pautar a igualdade de gênero na ciência.
No IFFar, desde 2022 conversamos com professoras e alunas sobre projetos em andamento e a participação feminina em atividades institucionais de pesquisa.
A professora Samay Zillmann Rocha da Costa, do Campus Frederico Westphalen, coordena o projeto de pesquisa intitulado Impacto da Avaliação Histopatológica Intraoperatória no Planejamento Cirúrgico. A proposta foi aprovada em editais de fomento em 2023 e já está em fase inicial de execução.
Ligada ao curso de bacharelado em Medicina Veterinária, a pesquisa objetiva, em linhas gerais, estudar a utilização de um procedimento que pode melhorar o diagnóstico e o tratamento de tumores em cães e gatos. Trata-se da chamada Avaliação Histopatológica por Congelação Intraoperatória.
De acordo com a professora Samay Costa, o método já é antigo e consolidado na medicina humana. Na medicina veterinária, no entanto, ainda é pouco utilizado e pouco estudado. “Além de trazer essa técnica recente para o interior do Rio Grande do Sul, será feita uma pesquisa para entender melhor sua aplicação”, explicou a professora do IFFar.
A professora do Campus Frederico Westphalen e a estudante Ana Cláudia Franceschi de Lima, que é bolsista do projeto de pesquisa, explicaram a pesquisa em detalhes. Confira na parte final desta notícia.
Mulheres conquistam mais espaço na pesquisa e na prática da medicina veterinária
O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro, foi instituído pela Unesco em 2015. De acordo com a agência, os desafios de desenvolvimento sustentável globais dependem do aproveitamento de todos os talentos: “a diversidade na área de pesquisa amplia o grupo de pesquisadores talentosos [...]. Este Dia nos lembra que mulheres e meninas desempenham um papel essencial nas comunidades de ciência e tecnologia”.
Foto: a estudante Ana Claudia Lima (na dir., de preto) falou sobre sua participação em atividades de pesquisa - foto com outros alunos estagiários do Lapav
Ao discorrer sobre a importância da presença feminina nas ciências, Samay Costa citou um exemplo que vai ao encontro da afirmação da Unesco. De acordo com a professora do Campus Frederico Westphalen, pesquisas já indicaram que mulheres médicas veterinárias teriam uma percepção da dor em animais diferente da dos homens. Isso indica que a diversidade de pontos de vista sobre um mesmo objeto pode enriquecer o conhecimento obtido através da pesquisa.
“Independentemente da área – política, cultura, ou ciência – a participação de homens e mulheres deve ser equilibrada”, opinou Samay Costa. Ela também disse acreditar que aos poucos, depois de muito trabalho, a participação das mulheres nessas áreas vem aumentando. “No meu ambiente de vivência, temos um número cada vez maior de mulheres na Medicina Veterinária”, exemplificou.
Apesar disso, ela citou alguns entraves, como por exemplo, algumas situações envolvendo trabalhos de campo. “Tivemos muitas situações em que o produtor relatava um problema para o único homem que estava na roda, ainda que ele fosse mais um dos estudantes presentes, e não o professor”, contou Samay Costa.
A estudante Ana Cláudia Lima concordou que cada vez mais as mulheres se fazem presentes tanto na pesquisa quanto nas atividades de campo. “É interessante observar também na área de clínica de equinos. O produtor sempre se refere ao homem. Mas isso está mudando. Cada vez mais temos mulheres atendendo no campo”, relatou a aluna do curso de Medicina Veterinária.
De acordo com a Unesco, a porcentagem média global de pesquisadoras é de 33,3%. No IFFar, os dados de 2023 mostram um cenário parecido, embora ligeiramente mais igualitário: 101 dos 260 projetos de pesquisa eram coordenados por mulheres, o que equivale a 38, 3%. Essas atividades envolveram 261 estudantes bolsistas, sendo 121, ou 46,5% mulheres. Os dados do IFFar foram obtidos com a Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PRPPGI).
Confira abaixo mais informações sobre o projeto de pesquisa coordenado pela professora Samay Costa.
Procedimento é aplicado em animais que já se encontram em processo cirúrgico
De acordo com a proposta da pesquisa, um em cada quatro cães desenvolverá algum tipo de neoplasia, isto é, tumores que podem ser benignos ou malignos. Além disso, 50% dos cães com mais de 10 anos irão morrer devido a complicações relacionadas a neoplasias malignas, também chamadas de cânceres (os dados são da Sociedade Europeia de Oncologia Veterinária).
O tratamento da maioria dos casos envolvendo neoplasias envolve uma cirurgia, seja para a remoção do tumor, para a coleta de amostras para a realização de biópsia e diagnóstico da doença, ou ambos. É durante essas cirurgias que a técnica estudada pela professora Samay Costa é aplicada.
Trata-se da análise de uma parte retirada do tecido neoplásico do animal, realizada através de técnicas envolvendo o congelamento da amostra, durante o processo cirúrgico que já seria realizado – daí o nome: Avaliação Histopatológica por Congelação Intraoperatória. Com isso, pode ser possível identificar o grau de malignidade da doença em poucos minutos, permitindo que o médico veterinário opte por condutas mais radicais ou mais conservadoras.
É possível, por exemplo, que o cirurgião faça a retirada do tecido em volta do tumor com mais precisão durante a mesma cirurgia, diminuindo as chances de que ele volte a aparecer. Além disso, como o diagnóstico é feito enquanto o animal ainda está sedado, a técnica pode evitar a necessidade de que o tratamento envolva novos procedimentos cirúrgicos.
A professora Samay Costa explicou que o método oferece pouco risco a mais para o animal. O procedimento apenas aumenta em alguns minutos o tempo que o cão ou o gato passa sedado, o que exige mais monitoramento e cuidado por parte dos médicos veterinários.
Técnica é aplicada em animais apenas em grandes centros
Se a técnica já é conhecida na medicina humana, não oferece muitos riscos a mais e pode melhorar a qualidade de vida dos animais, por que ela é pouco aplicada? De acordo com a professora Samay Costa, a aplicação da Avaliação Histopatológica por Congelação Intraoperatória em animais é cara.
Foto: Samay Costa (dir., de preto) e Ana Claudia Lima (no centro, de verde) explicaram em detalhes o projeto de pesquisa - foto com outros integrantes do Lapav
O alto custo se dá pela necessidade de uso de equipamento específico e, principalmente, da presença de profissionais capacitados. Atualmente, sua aplicação se restringe a grandes centros. Se há pouca utilização da técnica em animais, também há poucos dados. Por isso também não existem muitas pesquisas sobre o tema.
É aí que entra a pesquisa coordenada pela professora Samay Costa. Com a verba obtida no edital de fomento a ações de pesquisa do IFFar, foram comprados equipamentos para o Centro Veterinário do Campus Frederico Westphalen. O novo equipamento vai possibilitar a utilização da técnica em animais atendidos pelos professores e estudantes que atuam no local.
A aplicação do procedimento vai permitir a coleta de dados e a realização de pesquisas para avaliar e, possivelmente, melhorar o método. Além disso, vai levar para a comunidade um serviço ainda não oferecido na região e que pode trazer benefícios para o tratamento de animais de companhia a um custo baixo. Por fim, a pesquisa também vai permitir que estudantes do campus se tornem profissionais capacitados para realizar o procedimento.
Laboratório de Patologia Veterinária oferece serviços para produtores
O projeto de pesquisa Impacto da Avaliação Histopatológica Intraoperatória no Planejamento Cirúrgico é coordenado pela professora Samay Costa e conta com uma estudante bolsista: a aluna do nono semestre do curso de bacharelado em Medicina Veterinária Ana Cláudia Franceschi de Lima. Além delas, também vão participar outros professores e estudantes do curso que atuam no Laboratório de Patologia Veterinária (Lapav) do Campus Frederico Westphalen.
Foto: estudantes do curso de Medicina Veterinária do Campus Frederico Westphalen realizam atividade de campo relacionada a projeto de extensão
Através desse mesmo laboratório, a professora Samay Costa coordena um projeto de extensão que há cinco anos oferece um importante serviço para produtores da região. Intitulado Diagnóstico Anatomopatológico de Animais de Produção na Microrregião de Frederico Westphalen, o projeto já permitiu a realização de cerca de 49 necropsias em animais de produção de propriedades da região.
A necropsia permite conhecer a causa da morte do animal, auxiliando produtores e médicos veterinários a traçar estratégias de profilaxia e tratamento adequadas. Samay Costa explicou que esse tipo de diagnóstico não acontecia na região antes da implantação do curso de Medicina Veterinária porque não havia profissional patologista na região. Saber o que aconteceu com o animal, de acordo com a professora, traz um benefício grande para a comunidade, podendo evitar, por exemplo, surtos que teriam o potencial de trazer prejuízos para os produtores e a economia local.
Samay Costa contou que ela e os alunos percorrem um raio de quase 100km fazendo necrópsias em animais de produção. “Tenho muito carinho por esse projeto, porque conta com o envolvimento dos alunos do Laboratório e o contato com a comunidade”, disse a professora. Os materiais coletados são processados pelos alunos no laboratório e os casos são discutidos pelo grupo.
Atividades de ensino devem ser associadas com pesquisa e extensão
A estudante Ana Cláudia Franceschi de Lima é bolsista no projeto de pesquisa coordenado pela professora Samay Costa desde 2023. O envolvimento dela nas atividades do Lepep de Patologia Veterinária, contudo, iniciou em 2022, com o retorno das atividades presenciais após a Pandemia de Covid-19. Inclusive, o tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) veio dos dados obtidos com as necrópsias realizadas através do projeto de extensão da professora Samay Costa.
Após a conclusão do curso, que deve ocorrer no final desse ano, Ana Cláudia pretende fazer residência em medicina veterinária e se especializar na área clínica e médica de equinos. Ela também não exclui a possibilidade de continuar fazendo pesquisa, inclusive através de cursos de mestrado e doutorado. “Gosto muito da área de pesquisa, me sinto muito atraída por isso. Espero, mesmo atendendo, não deixar de lado essa parte”, projetou a estudante.
Para a professora Samay Costa, as atividades de pesquisa são fundamentais para o aprendizado. Ela defende que as atividades de ensino, pesquisa e extensão não podem ser desassociadas. A participação em projetos de pesquisa, mesmo quando o estudante não segue carreira acadêmica, favorece a formação profissional. “É um profissional que sabe ler um artigo científico, que reconhece sua importância. Sabe que para usar um produto ele precisa ser testado, aprovado e revisado”, exemplificou Samay Costa.
Secom
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