Mulheres no Comando - Entrevista com a Chefe de Gabinete da Reitoria
Série de entrevistas com mulheres que estão à frente do Instituto Federal Farroupilha. Confira a quarta da série, com a Chefe de Gabinete da Reitoria, Ângela Marinho.
No Instituto Federal Farroupilha, temos servidoras que desempenham funções de gestão na Reitoria e nos campi, sendo responsáveis por liderar grandes equipes e por tomar decisões importantes sobre o desenvolvimento da instituição.
Para que essas mulheres sejam ainda mais conhecidas e valorizadas – já que as identidades precisam ser narradas para serem reconhecidas e, assim, respeitadas, durante este mês de março apresentamos uma série de entrevistas.
Você vai entender por que essas mulheres conquistaram papéis de destaque, o que significa para elas estar à frente de um cargo de gestão e se, na opinião delas, a questão de gênero influencia no ambiente de trabalho.
A quarta entrevista é com a Chefe de Gabinete da Reitoria, a professora Ângela Marinho.
A série "Mulheres no Comando" é uma das ações que compõem o especial Mês da Mulher no IFFar.
Nome completo: Ângela Maria Andrade Marinho
Data em que assumiu o cargo de Chefe de Gabinete da Reitoria: 02 de agosto de 2012
Função e campus antes de ser Chefe de Gabinete:
Sou docente – Supervisora Pedagógica. Ao tomar posse na UFPel/CAVG, exerci o cargo de Supervisora Pedagógica. Após a redistribuição para o IFFar, assumi as funções de Assessora Pedagógica e Coordenadora de Gestão do PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica à Docência na Pró-Reitoria de Ensino/IFFar.
O que te motivou a aceitar o convite para assumir um cargo de gestão na instituição?
Assumir uma função na gestão está intimamente relacionado à participação, comprometimento e ética. Como sempre digo, me sinto motivada e engajada com o meu “quefazer”, objetivando contribuir para fortalecer a gestão em seus processos e projetos que visam a qualificar as políticas e as ações no âmbito do IFFar. Ademais, um dos princípios fundantes de minha prática é a participação voltada para a construção de políticas que favoreçam o coletivo, além de atender com excelência o público interno e externo, encaminhando com celeridade as demandas apresentadas.
Quais os benefícios de ser mulher ao assumir um cargo de gestora? Quais os principais desafios?
Penso que não tenho benefícios por ser mulher. O que posso dizer é que é satisfatório assumir um cargo importante como estar Chefe de Gabinete na Reitoria de uma instituição como o IFFar. A maior questão, na verdade, são as dificuldades de aceitação por parte do público quanto às situações “mulheres no poder”, “mulheres com cargo”, “mulheres que sustentam a família”, uma vez que os itens anteriormente citados ainda são tabus em nossa sociedade, infelizmente. Talvez, por termos barreiras a transpor neste sentido, o maior desafio, no ambiente de trabalho propriamente dito, seja se fazer respeitar como mulher, como gestora e ter sabedoria para equilibrar as responsabilidades profissionais e familiares.
Você já ouviu alguma frase machista a respeito de seu cargo profissional? Como você reagiu e/ou costuma reagir?
Não costumo ouvir frases machistas no meu ambiente de trabalho. Sempre deixo muito claro a importância do respeito nas relações e do dever de dizer sempre a verdade, então isso não faz parte do meu dia-a-dia, mas certamente responderia com respeito, contra- argumentando qualquer tentativa de desmerecimento quanto ao “ser mulher” em pleno século XXI.
Você acha que é mais fácil para um homem ocupar um cargo de gestão do que para uma mulher? Por quê?
No meu caso, esta não foi uma questão relevante. Minha superiora imediata é uma mulher. Nessa gestão, temos muitas mulheres ocupando cargos importantes. No entanto, não podemos ignorar o fato de que vivemos em uma sociedade patriarcal, onde em muitos (na maioria) dos ambientes de trabalho, homens são tidos como aqueles que têm mais credibilidade, mais competência do que as mulheres. Pesquisas indicam a relação de clientes com empresários homens e mulheres, e é espantosa a maioria esmagadora que confia mais no trabalho do homem. Acho importante ressaltar este tipo de situação aqui, porque ainda que no meu caso este fator não tenha interferido, não se pode esquecer das situações humilhantes e desgastantes que mulheres do mundo todo enfrentam, simplesmente por serem mulheres. Por isso, a luta deve ser contínua, e o dia da mulher muito mais que bombom e flores e sim respeito e reflexão sobre politicidade (do cuidado nas relações de gênero), cidadania, absenteísmo, “pre-sença” com comprometimento, entre tantos outros temas de igual relevância. No meu entendimento, somos tão capazes quantos os homens. Em geral, somos práticas e objetivas. O que existe é a cultura machista que ainda enobrece os homens, e este é o desafio: desconstruir essas falácias e construir o empoderamento feminino, incentivando mulheres à participação social, garantindo que possam estar (cons)cientes sobre a luta pelos seus direitos (e deveres) e consequentes conquistas, de modo a agir, pensar e intervir criticamente, numa busca imanente pela “pre-sença” (constituição ontológica de). É na pre-sença que a mulher constrói seu modo de ser-no-mundo. Pre-sença, aqui entendida no sentido Haideggeriano como o que emerge e se desenvolve a partir do que é representado pela pre-sença, ou seja, disposição para atuar.
Em que exemplo(s) feminino(s) você se inspira para exercer sua função profissional?
Minha mãe! Foi uma grande mulher! Íntegra, honesta, verdadeira e trabalhadora. Sempre enfrentou os embates da vida e nunca abdicou do seu papel de filha, esposa, mãe, vó, dona de casa. Para ela, seu maior patrimônio era a família. Incentivou a formação dos filhos, orientando-nos criticamente quando necessário, chamando a atenção para que minha irmã e eu fôssemos mulheres autônomas, independentes numa sociedade que deseja mulheres subservientes, ainda que de modo disfarçado.
São muitas as mulheres de destaque, que admiro e que merecem respeito, reconhecimento e ser seguidas pelas suas atitudes e posturas que enaltecem ou enalteceram a classe, mas cito algumas:
Cenário mundial: Frida Kahlo, Simone de Beauvoir, Angelina Jolie, Beyoncé.
Cenário Brasileiro: 1ª Presidenta eleita: Dilma Roussef, Cora Coralina, Nisia Floresta, Chiquinha Gonzaga, Anita Garibaldi.
Cenário Gaúcho: Deputada Federal Maria do Rosário
Cenário Institucional: 1ª Reitora eleita: Carla Comerlato Jardim
Em casa: Minha filha, Maria Marinho, uma feminista que me impulsiona ser, a cada dia, uma mulher mais atuante na luta pelos direitos humanos e, no caso específico, na luta pelo direito das mulheres de serem quem elas quiserem, onde elas quiserem!
O que falta para mais mulheres conquistarem posições de destaque no mercado de trabalho?
Em um aspecto horizontal, talvez falte sororidade, uma questão de dimensão ética, política e prática de um movimento que prima pela igualdade entre os gêneros. Importante deixar claro que a sororidade consiste no fato de as mulheres não se julgarem previamente, formarem alianças e terem empatia umas com as outras, o que pode ajudar a enfraquecer estereótipos preconceituosos legitimados por uma sociedade patriarcal.
Em um aspecto vertical, acredito que o que falta é respeito. Ademais, é importante a desconstrução, desde o berço, da ideia de que homens devem ter brinquedos que o estimulam a serem astronautas, políticos, pilotos de corrida... Enquanto as meninas são estimuladas a brincarem com maquiagens, terem bonecas que fixam estereótipos de beleza impossíveis de serem atingidos e serem constantemente estimuladas e cobradas a usar roupas e produtos que as tornem “mais bonitas”, como símbolo de inteligência e capacidade.
Em suma, penso que devemos estimular a resiliência existente dentro de cada mulher, que consiste em administrar problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos e voltar à normalidade por encontrar soluções para enfrentar e superar as adversidades do momento, seja na família, no entorno social ou no trabalho, lutando pelo triedro emancipatório do cuidar, calcado na articulação entre conhecimento, cuidado e poder.
Secom
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