FisíChef transforma sala de aula em cozinha de experimentos no Campus São Borja
No IFFar - Campus São Borja, o desafio foi lançado: criar um menu com um ingrediente principal definido por sorteio, unindo técnica, criatividade e conhecimentos científicos.
Professor Mairon Machado com as alunas do curso técnico integrado em Informática: Gabriela, Érika, Maiara, Letícia e Giovanna.
Mas essa não é a sinopse de um reality gastronômico — é a proposta pedagógica do FisíChef, atividade interdisciplinar que mobilizou estudantes de duas turmas do segundo ano do curso técnico integrado em Informática e transformou o laboratório de Gastronomia em sala de aula.
A prática reúne conteúdos de Física, Biologia e Geografia, promovendo o diálogo entre Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. O objetivo: aplicar os conhecimentos adquiridos nas disciplinas para elaborar um menu completo com entrada, prato principal e sobremesa, considerando critérios como tempo de preparo, sabor, apresentação e sustentabilidade.
Sob orientação do professor Mairon Machado (Física) e com o apoio dos docentes Emerson Roballo (Geografia), Denise Palma (Biologia) e Juliana Félix (Gastronomia), os alunos vivenciaram uma jornada educativa que combina ciência e sabor, teoria e prática, conteúdo e vivência.
Receita de uma ideia que deu certo
A ideia surgiu em 2016, quando uma aluna do curso de Física enfrentava o desafio de ensinar termologia a estudantes do PROEJA. “Era um público com idades e vivências muito diversas, então precisávamos pensar em uma abordagem que fizesse sentido para eles”, explica o professor Mairon Machado. “Aproveitamos a popularidade dos programas de culinária para unir Física e gastronomia. A partir daí, a proposta cresceu e hoje envolve outras áreas do conhecimento”.
Ao longo dos anos, o projeto se consolidou e ganhou novas camadas. Nos anos seguintes, além da Física, a atividade passou a integrar também conteúdos de Geografia e Biologia, ampliando a visão interdisciplinar dos estudantes e incentivando a construção de saberes conectados com a vida real.
Segundo Machado, o FisíChef também tem como foco o desenvolvimento de competências socioemocionais e o trabalho em equipe. “Os grupos são formados por sorteio, o que estimula os alunos a interagirem com colegas com quem talvez não teriam proximidade. Isso contribui para que desenvolvam habilidades de comunicação, empatia e liderança”, destaca.
Sustentabilidade e consciência crítica
De acordo com o professor Emerson Roballo, o projeto foi além da interdisciplinaridade. “O FisíChef tornou-se uma experiência multidisciplinar e aplicada, integrando teoria e prática em um ambiente concreto, com supervisão docente”, avalia o professor.
O docente destaca que os alunos foram estimulados a investigar a origem dos ingredientes, refletir sobre o impacto ambiental da produção e pensar em alternativas sustentáveis. “Mais do que uma atividade pedagógica, a proposta buscou despertar a consciência ecológica dos estudantes e mostrar que a educação pode ser dinâmica e transformadora”, completa.
Na área da Biologia, a professora Denise Palma destaca que o projeto aproximou os alunos dos conceitos de alimentação saudável. “Trabalhamos a composição nutricional dos alimentos, abordando vitaminas, sais minerais, proteínas e outros nutrientes essenciais. Foi uma maneira interativa de reforçar os conteúdos, relacionando-os diretamente com a prática”.
Suporte técnico e primeiros contatos com a cozinha
Muitos dos estudantes nunca haviam tido contato com um laboratório de Gastronomia ou mesmo com os utensílios e equipamentos profissionais de uma cozinha. Por isso, a participação da professora Juliana Félix, do curso de Gastronomia, foi essencial para o bom andamento da atividade. Coube a ela supervisionar o manuseio correto dos materiais, orientar sobre segurança alimentar e garantir que cada grupo pudesse executar suas receitas com autonomia — mas também com responsabilidade.
Com sua presença constante no laboratório, Júlia ofereceu suporte técnico aos estudantes durante todas as etapas do preparo. Sua atuação ajudou a traduzir conceitos da prática culinária em vivências seguras e organizadas, proporcionando uma experiência completa aos alunos.
Sabores da aprendizagem ativa
A proposta pedagógica do FisíChef está alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que defende o desenvolvimento de competências essenciais para a vida em sociedade e para o mundo do trabalho. O projeto convida os estudantes a assumirem o protagonismo do próprio aprendizado, com autonomia, raciocínio lógico e criatividade.
“Acho que esse tipo de abordagem facilita muito como iremos aprender o conteúdo”, afirma a estudante Gabriela Guilet Garcia. “Não aprendemos apenas a teoria e os apontamentos discutidos pelos professores. O legal é que é uma experiência bem mais vivencial”, completa.
Gabriela integrou a equipe que preparou um menu completo com banana. Segundo ela, o desafio de preparar três pratos em apenas 1h20 exigiu organização e agilidade. “Além dos conteúdos de cada disciplina, os professores estavam avaliando também o sabor e a estética do prato. A pressão foi grande, mas conseguimos nos sair bem”.
Giovanna Alcantara, que também participou da atividade realizando um menu com abacaxi, explica que a dinâmica envolvia o sorteio do ingrediente com uma semana de antecedência para estudo. “A gente foi orientado a não contar qual ingrediente tinha sido sorteado para os colegas, porque isso poderia dar vantagem a outras equipes. Então, além de estudar, a gente precisava manter segredo”, relata. Para ela, esse detalhe tornou a experiência ainda mais instigante. “Pesquisamos sobre o alimento, além de estudar as disciplinas e possíveis questionamentos, para que pudéssemos ter pratos que fossem ao encontro das expectativas”, relata.
Já Maiara Escobar do Nascimento teve a missão de trabalhar com a abóbora. “Tivemos acesso ao ingrediente principal com antecedência, o que nos deu uma semana para pesquisar e planejar o preparo. No começo, nem imaginava o que fazer tendo todos os pratos com abóbora em uma entrada e um prato principal. Mas, no final, conseguimos montar um menu completo”.
Letícia Rodrigues de Lima reforça que a experiência foi enriquecedora. “Por mais que tivéssemos responsabilidades individuais, houve a necessidade de compreender a proposta como um todo. Acredito que estudar para algo mais prático nos permite entender o assunto de forma mais fácil”, afirma.
Resultados à mesa
As apresentações finais ocorreram semanalmente para cada equipe. Na Turma 20, o grupo que usou abacaxi como ingrediente principal ficou com o primeiro lugar, seguido pela equipe da banana. Já na Turma 21, a equipe sorteada com a abóbora como protagonista do cardápio levou a melhor — mesmo com perrengues no caminho.
A estudante Érika dos Santos Oliveira relembra o processo com humor: “Achei muito legal, nunca tinha feito nada assim antes. Apesar de ter dado um pouco de desespero — quase queimamos os pratos em dois momentos, na verdade —, no final deu tudo certo”.
O segundo lugar da Turma 21 também ficou com uma equipe que apostou na versatilidade da banana. Em comum, todas as turmas tiveram o desafio de conectar diferentes áreas do conhecimento e transformar conteúdo acadêmico em experiências concretas, cheias de sabor e aprendizado.
No fim, mais do que receitas elaboradas, o que os alunos levam do FisíChef é a experiência de aprender de forma ativa, colaborativa e significativa — ingredientes que fazem toda a diferença na formação para a vida.
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