Educação que transforma vidas: Programa Mulheres Mil certifica 19 estudantes
“Ninguém nasce feito, é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos.” A frase do patrono da educação brasileira, o educador Paulo Freire, em seu livro Política e Educação, deu o tom da noite de 19 de agosto, quando 19 mulheres celebraram a conclusão do curso de Assistente Administrativo pelo Programa Mulheres Mil.

Professoras e participantes do Programa Mulheres Mil celebram a conclusão do curso de Assistente Administrativo durante cerimônia realizada na Reitoria do IFFar
A cerimônia, realizada na Reitoria do IFFar, marcou a formatura da segunda turma de egressas da iniciativa no município.
Durante três meses, entre maio e agosto, as participantes cumpriram um percurso formativo de 160 horas, que uniu conhecimentos técnicos, como contabilidade, gestão de pessoas e logística, a temas fundamentais para a cidadania e a vida em comunidade, como direitos da mulher, relações de gênero e inclusão digital. Para muitas, o certificado simbolizou mais que a conclusão de um curso, foi a retomada do vínculo com os estudos, a possibilidade de inserção no mercado de trabalho e, sobretudo, a prova de que a educação pode transformar realidades.
A turma também reafirmou o compromisso do programa com a diversidade. A presença de Stéfany Rodrigues Marafiga, mulher trans e trabalhadora de um escritório de advocacia da cidade, mostrou que a iniciativa vai além da capacitação profissional, criando espaços de acolhimento e pertencimento. Feliz com a certificação, Stéfany contou como o projeto cruzou seu caminho: “Descobri o Mulheres Mil através do CRAS, porque sempre estive envolvida em projetos sociais. Já sou formada em marketing, empreendedorismo e mídias digitais, mas senti que precisava acrescentar mais uma formação. No início, pensei em desistir, era cansativo. Mas eu havia incentivado outras seis mulheres a se inscreverem. Então, me senti responsável. Muitas vezes uma ligava para a outra, uma buscava a outra em casa, e assim seguimos juntas até o fim. Ninguém soltou a mão de ninguém”.

Stéfany Rodrigues Marafiga destacou a importância da rede de apoio construída entre as colegas como fator decisivo para sua permanência e conclusão da formação.
Entre as colegas, uma rede de apoio foi construída e se fortaleceu a cada encontro. Para Stéfany, essa foi a força que manteve o grupo unido: “As aulas sempre foram produtivas e acolhedoras. Uma ajudava a outra, se alguém tinha dificuldade em português, outra sabia, se era em matemática, outra ajudava. Foi isso que nos fez chegar até aqui”, comenta.
Outra história que marcou a noite foi a de Leysa Santos da Rocha, escolhida pela turma como oradora da solenidade. Moradora do bairro Dom Ivo, em Santa Maria, Leysa revelou que o curso foi um divisor de águas em sua vida pessoal e profissional: “Eu estava num ponto em que só ficava dentro de casa cuidando das minhas filhas. Passei dois anos somente dentro do meu próprio bairro, levando minhas filhas para a escola e voltando para casa. Achava até que eu era burra (sorri). Mas aqui eu redescobri que sabia muito mais do que imaginava. Esse curso me incentivou a procurar outros. Agora estou fazendo auxiliar de perito criminal, necropsia e papiloscopia, porque quero ser perita criminal. E vou lutar por isso”, enfatiza a estudante.

Escolhida como oradora da turma, Leysa compartilhou como o curso foi um marco de transformação em sua vida pessoal, profissional e familiar.
Mãe de sete meninas, três com ela e quatro que vivem em Florianópolis, Leysa destacou que a conquista também refletiu dentro de casa: “Minhas filhas me veem estudando e ficaram orgulhosas. Até mudou o jeito delas de irem para a escola, porque antes queriam faltar. Hoje, dizem, ‘vai pro curso, mãe, vai pro colégio’. Isso não tem preço”, comenta alegre.
Ofertado pela Pró-Reitoria de Extensão do IFFar, com apoio do Campus São Vicente do Sul, o curso integra o Programa Mulheres Mil, do Ministério da Educação. Criado em 2011 e relançado em 2023, o programa tem como objetivo oferecer a mulheres em situação de vulnerabilidade social o acesso à educação como ferramenta de empoderamento, geração de renda e inserção profissional.
A coordenadora institucional da iniciativa, professora Denise Valduga Batalha, destacou que o impacto vai além das alunas: “O IFFar desempenha um papel ativo nesse processo de inclusão e qualificação. Garantimos o acesso das mulheres a uma educação de qualidade e fomentamos a continuidade dos estudos, ajudando a superar barreiras econômicas e sociais. O impacto vai muito além das participantes, alcança suas famílias e comunidades, contribuindo para uma sociedade mais justa e igualitária”, argumenta Denise.
A cerimônia reuniu autoridades institucionais, como o pró-reitor de Extensão, Getúlio Jorge Stefanello, que representou a reitora Nídia Heringer, além de gestores e coordenadores ligados ao programa. O momento cultural ficou por conta de Daiana de Freitas Carpenedo, diretora de Gestão de Pessoas do IFFar e vocalista da banda Chased.
A certificação reafirma o compromisso do IFFar e do Programa Mulheres Mil em ampliar o acesso à educação, promover a inclusão social e oferecer oportunidades concretas de transformação para mulheres em diferentes contextos de vida. Afinal, como lembrou Freire, ninguém nasce feito, é vivendo, aprendendo e partilhando saberes que nos tornamos o que somos.
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