Ir direto para menu de acessibilidade.

Tradução Portal

ptendeites

Opções de acessibilidade

Página inicial > Projeto Ariranhas: a ariranha no cenário global, políticas públicas e futuro da conservação
Início do conteúdo da página
Notícias Panambi

Projeto Ariranhas: a ariranha no cenário global, políticas públicas e futuro da conservação

Publicado em Quinta, 11 de Dezembro de 2025, 12h35 | por Secretaria de Comunicação | Voltar à página anterior

Depois de entender o cotidiano do monitoramento e os efeitos da crise climática sobre as ariranhas, chegamos ao momento em que a pesquisa ultrapassa as margens dos rios. A terceira e última parte da série revela como os dados reunidos pelo Projeto Ariranhas, do IFFar – Campus Panambi se tornam referências internacionais, influenciam políticas públicas, aproximam comunidades e colocam a conservação da espécie no centro das discussões.

Sem nome 800 x 500 px 5
Caroline Leuchtenberger ministra treinamento para equipe do Projeto Ariranhas/Foto: Divulgação

A ariranha no centro do debate global

O conjunto de dados reunidos ao longo dos anos e a parceria com outras instituições fizeram com que a experiência da equipe do Projeto Ariranhas passasse a contribuir para ações mais amplas no país e fora dele. Nesse processo, dois momentos recentes mostram como o conhecimento produzido tem ajudado a fortalecer debates nacionais e internacionais.

Um deles é um relatório técnico elaborado em 2025 por 40 especialistas de 12 países, do qual a fundadora e coordenadora do Projeto, a professora do IFFar - Campus Panambi e coordenadora de Pós-graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PRPPGI), Caroline Leuchtenberger, foi uma das responsáveis.

O documento reúne dados atualizados sobre a biologia, a ecologia e as principais ameaças à ariranha, servindo como base para políticas públicas, projetos de conservação e pesquisas científicas em um contexto de crescente pressão climática.

Além do conteúdo técnico, o relatório apresenta um mapa estratégico que identifica 22 áreas prioritárias para a conservação da espécie – 12 delas no Brasil, país que concentra a maior parte da distribuição histórica da ariranha. O instrumento destaca lacunas de conhecimento, regiões onde a espécie pode estar desaparecendo e zonas críticas que demandam atenção urgente para evitar novos declínios populacionais.

R.3.2
Mapa Estratégico para conservação das ariranhas. As áreas em cinza indicam os locais de distribuição da espécie. Fonte: Wildlife Conservation Society (WSC - Sociedade para a Conservação da Vida Selvagem)

Outro momento recente, foi o convite para participar de uma reunião com a primeira-dama Janja Lula da Silva, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O encontro, promovido pelo projeto Vozes dos Biomas, ocorreu em outubro deste ano e reuniu mulheres que atuam em diferentes frentes de conservação da biodiversidade. Lá, Caroline apresentou dados sobre as principais ameaças enfrentadas no Pantanal, como a crise hídrica, os incêndios, os desequilíbrios ecológicos, o turismo desordenado e a necessidade de políticas públicas capazes de garantir proteção efetiva à espécie e ao bioma.

Ao longo do evento uma dinâmica aproximou pesquisadoras, quilombolas, indígenas, lideranças comunitárias e profissionais do território. Dessa troca surgiram cartas coletivas, que foram levadas à 30ª edição da Conferência das Partes (COP30), defendendo ações urgentes para proteger cada um dos biomas brasileiros ameaçados - Pantanal, Amazônia, Mata Atlântica, Pampa, Cerrado e Caatinga - e as espécies que deles dependem. Para a coordenadora, participar desse processo, e ver a ariranha representada em um debate internacional, é o reconhecimento a importância da conservação de todo o ecossistema, e acrescenta: “O que mais me marcou foi a escuta atenta das lideranças femininas, a convergência em torno da importância de integrar justiça social e conservação e o reconhecimento da relevância das vozes científicas e comunitárias”.

Caroline diz que a presença feminina tem crescido e ocupado espaços cada vez mais centrais na ciência e na governança ambiental. Ela destaca que, embora ainda haja desigualdades, as mulheres vêm se mostrando fundamentais para integrar comunidades às ações de conservação, promovendo abordagens participativas e buscando justiça socioambiental. “Há barreiras institucionais e culturais a superar, mas os avanços recentes, como maior visibilidade, redes de apoio, liderança em espaços decisórios, têm sido encorajadores”, destaca.

Janja
Caroline (terceira da dir. para esq), ao lado da primeira-dama, Janja e da ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara durante encontro realizado em Campo Grande - MS/ Foto: Divulgação

Desafios e o legado da conservação

Graças aos resultados alcançados até aqui, o Projeto Ariranhas tornou-se referência na conservação da espécie dentro e fora do país e hoje tem papel-chave no Plano Nacional de Conservação da Ariranha (PAN Ariranha), coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Mesmo assim, manter o trabalho em andamento ainda é um desafio. Não existe um orçamento fixo para pesquisas sobre a ariranha, e as ações dependem de editais, apoios privados e parcerias que ajudam a viabilizar viagens e equipamentos.

Segundo Caroline, isso exige da equipe um esforço constante. “A sustentabilidade do Projeto depende de financiamento estável, apoio institucional e comunitário para assegurar a continuidade das ações de monitoramento, engajamento social e manutenção da equipe”. Ela reforça que também é essencial que os resultados cheguem aos responsáveis por tomar decisões. “É fundamental que nossas evidências subsidiem decisões capazes de melhorar efetivamente o cenário da conservação, e isso requer apoio do Estado e representatividade em agendas socioambientais”.

Para a pesquisadora, a maior dificuldade está na mobilização das pessoas envolvidas, tanto moradores, quanto gestores públicos, financiadores e até a própria equipe. “Isso está diretamente ligado às condições logísticas e humanas necessárias para executar ações de médio e longo prazo”.

Apesar das adversidades, o Projeto continua avançando. Entre as próximas ações estão ampliar o trabalho com moradores das regiões atendidas, fortalecer iniciativas de geração de renda sustentável, como o turismo de observação de fauna, e firmar novas parcerias com instituições de ensino e organizações sociais. A equipe também pretende incorporar novas tecnologias para melhorar o acompanhamento da espécie, sempre alinhada ao PAN Ariranha e a outras estratégias nacionais e internacionais.

Os pesquisadores também observam caminhos para recuperar áreas onde a ariranha já desapareceu. Uma das possibilidades em discussão, ainda em estágio inicial, é a reintrodução: medida de conservação que consiste em devolver uma espécie a locais onde ela foi extinta. Segundo Caroline, há um projeto-piloto em andamento na Argentina, na região dos Esteros de Iberá, próximo a São Borja, do qual ela participa como colaboradora. Paralelamente, a equipe iniciou um levantamento na bacia do rio Paraná para avaliar se a região pode reunir, no futuro, requisitos mínimos para receber indivíduos reintroduzidos.

“É um processo bastante complexo, pois precisamos fazer a conexão com as populações residentes. Mas, se der certo na bacia do Paraná, talvez a gente consiga trazê-las para a bacia do Uruguai”, projeta.

Ao pensar no futuro, Caroline espera que o Projeto deixe um legado que vá além do monitoramento da espécie. Ela acredita que a iniciativa pode inspirar novas gerações a cuidar dos rios, da fauna e dos ambientes naturais. “Desejo que o conhecimento científico gerado apoie políticas socioambientais e práticas de manejo integrado, fomentando soluções para o desenvolvimento sustentável. E, para a ariranha, desejo segurança nos ambientes que ela ocupa hoje e que já ocupou no passado, restabelecendo seu papel ecológico”, complementa.

Sem nome 800 x 500 px 9
Projeto promove ações educativas para crianças das comunidades pantaneiras/ Foto: Divulgação

Para finalizar, ela deixa um recado que resume a urgência do momento. “A ariranha ainda é pouco conhecida e valorizada pelos brasileiros, e, está em risco de desaparecer dos poucos ambientes onde ainda persiste. Sua extinção alerta para a qualidade daquele que é nosso maior recurso natural: a água. Conservar a ariranha significa proteger os nossos rios e toda a vida associada a eles – inclusive a humana”.

Quem quiser conhecer mais sobre o trabalho dos pesquisadores, descobrir curiosidades sobre as ariranhas, fazer uma doação ou até mesmo se candidatar para participar como voluntário e atuar de forma ativa pela conservação da espécie, pode acessar o site oficial do Projeto em: https://projetoariranhas.org/.

Saiba mais;

Projeto Ariranhas e a luta pela conservação da maior lontra do mundo
Projeto Ariranhas: monitoramento, desafios climáticos e trabalho de campo

Secom

Redação: Daniele Vieira - estagiária de Jornalismo
Revisão: Rômulo Tondo - Jornalista
Coordenador de conteúdo: Elisandro Coelho - Relações Públicas

Fim do conteúdo da página